quinta-feira, 1 de abril de 2010

Entrevista - Fernando Japiassu

A música de Stufana

Fernando Japiassú
Correia Lima, autor da trilha sonora da minissérie Stufana, nasceu em João Pessoa (PB) em 22/02/1969. Aprendeu com o pai a amar as artes, em especial a música, a poesia e o desenho. Na adolescência, nos anos 80, participou do movimento roqueiro do Recife com A Banda, tocando violão, guitarra, teclado e dando os primeiros passos na composição. Para nortear os estudos entrou para o Conservatório Pernambucano, onde apaixonou-se pela música clássica e passou a se dedicar ao violão erudito sob a orientação de Guilherme Calzavara. Nos anos 90 voltou para o rock com a banda Siricongados. Prestou vestibular para o Bacharelado em Violão na UFPE, onde recebeu orientação do professor Mauro Maibrada, tendo aulas formais de harmonia e informais sobre “tudo” com o professor Dierson Torres. Trabalhou com trilhas e jingles para propaganda. Entre idas e vindas com a música cursou Informática, Engenharia Elétrica, Psicologia e Direito, no qual se formou. A seguir, Fernando fala em pouco sobre seu trabalho em Stufana.


Que desafios traz a criação da trilha sonora de uma ficção?
O primeiro desafio é entender o que o diretor quer com a cena. Nem sempre é tão explícito o grau de tensão, suspense, resolução, alegria, a que a cena se propõe. Uma vez captada a emoção necessária deve-se ficar atento ao “timing” da ação. A música pode dar dicas de que vai acontecer algo, e isso às vezes é desejável, mas outras vezes pode estragar a surpresa. Por fim, é necessário encontrar o equilíbrio entre a coerência e a redundância. A música deve ter um campo sonoro adequado ao campo visual, mas é preciso resistir ao lugar comum. Deve-se acrescentar sentido a imagem e não repetir musicalmente o que está sendo feito. No caso de Stufana, temos como exemplo a cena em que as crianças estão brincando no parque. Colocar uma cantiga de roda seria ser redundante. Optei por usar palmas e percussão, que remetem ao universo infantil, mas fazendo uma brincadeira mais improviso jazz/latino em cima.

Como foi seu processo de criação?
O processo de criação foi bastante facilitado por poder ter acesso aos episódios já editados. Desta forma pude ver e rever cada episódio. Marquei as cenas que sentia precisar de alguma trilha e depois procurei analisar o que cada uma pedia. A partir daí começo a trabalhar mais com a escolha de timbres. Onde fica legal intrumentos elétricos? Onde fica legal acústicos? Sintetizado? Percussões? Depois de ecolhidos os timbres fiquei brincando com eles e vendo as cenas, até ter aquele “insight” de ter achado o caminho. Por fim vem a fase da transpiração. Adequar harmonia, refinar o arranjo, mixagem, masterização...

Qual episódio foi o mais difícil de lidar?
O episódio da Marana foi bastante complicado. (ATENÇÃO! SPOILERS!) Ele inicia com uma cena no caos urbano do Recife e que segue até o interior de um apartamento com ares de antigamente. Como toda essa passagem é visual, sem falas, queria criar uma música que conseguisse unir os dois universos. Isso deu trabalho. Depois o mesmo episódio tem a cena do morador de rua para qual fiz um quarteto de flauta, clarinete, oboé e tuba. Também foi meio trabalhoso, mas acho que era o que a cena pedia. Ao mesmo tempo era um episódio mais leve. Queria aproveitar para fazer uma trilha mais alegre, que desse chance do espectador respirar.

Qual episódio fluiu melhor?
O de Latika e Khassim saiu muito fácil. (ATENÇÃO! SPOILERS!) Todo o episódio é no mesmo ambiente. E a trilha procurou reforçar mais a tensão inerente. Usei muito sintetizador. Com timbres que lembram tensão e as vezes confusão mental. Também foi divertido pontuar os poderes energéticos do Kassim.

Para concluir...
A experiência com Stufana foi muito boa e muito desafiadora. Quando aceitei fazer não tinha idéia se iria conseguir. (risos) Já tinha feito alguma coisa para propaganda de rádio. Mas não para imagem e muito menos cinema. Mas quando comecei vi logo que sintonizei com a proposta e iria conseguir mesmo com o tempo exíguo que tinha para isso.

3 comentários:

  1. Entrevista incrível. Parabéns, Fernando, sua trilha é magnífica.

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  2. louca pra ver.. ou melhor.. ouvir essa poesia toda! é HOJEEEEEEEEEEE!

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  3. Foi uma surpresa maravilhosa ouvir a música de Stufana no dia da estreia. Fernando absorveu todo o clima da estória. Adorei! Grande abraço,
    Carol.

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